Semana XXIX Jurídica Univem. Penas alternativas e os novos sentidos da punição

Aconteceu no dia 26-10-2012, o encerramento da XXIX Semana Jurídica Univem com a palestra da Juíza de Direito da Execuções Criminais e Corregedora dos Presídios da Comarca de Marília -Juíza Renata  Biangioni Belam.

Inicialmente a palestrante discorreu sobre a importância das penas alternativas ou restritivas de direito em relação as penas privativas de liberdade.

Aduz  que as penas restritivas de direitos infligem ao apenado certas restrições de direitos, ou o cumprimento de certas obrigações.

Possui diversos modos de aplicação, possuindo para isso, várias espécies legais de aplicação.

Com a lei no 9.714/98, passaram a ser cinco as espécies desta pena, conforme reza o art. 43 do CP:

Art. 43. As penas restritivas de direitos são:

I- prestação pecuniária;

II- perda de bens e valores;

III- (vetado)

IV- prestação de serviço a comunidade ou a entidades públicas

V- interdição temporária de direitos;

VI- limitações de fim de semana.”

Dessa síntese inicial da palestrante devemos lembrar alguns pontos importantes nas penas alternativas apontadas pelos  doutrinadores do Direito Penal.

Aprendemos que a pena criminal tem três finalidades básicas: é intimidativa, pois a prisão de um criminoso atemoriza o outro; é retributiva, pagando o mal com o mal, e é ressocializadora, pois virá a “reeducar” o delinquente.

Pode-se pensar friamente na questão, e considerar se a pena de prisão vem cumprindo suas  finalidades?

As estatísticas comprovam que, no momento em que comete um delito, o indivíduo, em geral, não leva em conta a pena à qual poderá ser submetido. Seu estado psicológico não permite que ele tenha um raciocínio mais lógico e objetivo. Parece-nos que, se algum efeito persuasivo exerce, sobre o delinquente, a possibilidade da punição, tal efeito não seria produzido pela gradação da sanção penal, mas sim pela certeza de sua aplicação.

Na verdade, o primeiro passo a ser dado em direção à verdadeira justiça é encontrar punições que, ao mesmo tempo que convençam a sociedade de que as pessoas foram realmente punidas, exerçam influência positiva sobre o infrator, fazendo-o regenerar-se e reintegrar-se ao convívio social.

Importantes trabalhos de pesquisa, a nível internacional, concluíram que mais da metade dos indivíduos presos não preenchem os critérios de periculosidade e violência, não justificando o encarceramento.

Ou melhor, são indivíduos que, depois de passarem algum tempo presos, ao serem liberados, apresentam-se com maior dificuldade para adaptar-se à sua própria comunidade. Se aí tivessem permanecido, cumprindo penas alternativas, teriam servido melhor à sociedade.

O Direito Penal tem ido, cada vez mais, em direção a um Direito Penal mais humano.

Começamos com um direito penal carrasco, vingativo, extremamente violento até chegarmos num Direito Penal no qual, salvo em caso de guerra, a pena máxima é a perda da liberdade.

Não há de se discutir a importância do Direito Penal como forma de controle social, pois é de fato, uma forma importante de controle social.

O que não pode ocorrer é se usar o Direito Penal como uma forma milagrosa para esse controle, como nos parece que tenta estabelecer a doutrina do Direito Penal máximo.

Com o aumento do rigor das leis não encontraremos uma sociedade mais segura, como, por exemplo,  no caso da lei dos crimes hediondos que, de modo prático, não diminuiu em nada os crimes enquadrados nessa modalidade.

Temos, também, que levar em consideração a ressocialização do preso, não basta condenar alguém a uma pena altíssima sem esquecer que um dia, por mais demorado que seja, ele retornará a sociedade.

Com isso, temos que dar subsídios para que o apenado tenha condições de um retorno digno ao convívio social.

Cabe lembrar as palavras de Cesare Becarria quando disse: “a prevenção depende mais da certeza da punição que da medida de sua intensidade”.

Nesse vertente doutrinária vemos um Direito Penal máximo sendo desmedido, ineficaz e, muitas vezes, uma afronta a dignidade da pessoa humana.

Pensando em um Direito Penal mínimo, usado como ultima ratio do controle social e dentro da aplicação do Direito Penal, a pena de prisão deve ser a última modalidade de sua aplicação.

Nesse espírito que as penas e medidas alternativas entram de forma fundamental, aliada a um sistema carcerário deficitário, sem a menor condição de ressocializar e, na maioria dos casos, servindo para tornar o apenado ainda mais marginalizado.

As penas e medidas alternativas cumprem muito bem os seus papeis de punir e ao mesmo tempo ressocializar o apenado.

Não podemos pensar nas penas e medidas alternativas como um modo de impunidade, mas são menos graves que a pena de reclusão justamente porque se aplicam a delitos menos graves.

Não há o menor sentido em se expor um condenado por um crime leve a conviver, mesmo que por curto tempo, num ambiente tão deformador quanto à cadeia.

Pode-se concluir, que o Brasil não necessita de um Direito Penal mais duro, mas sim de uma política social mais forte, dando oportunidades reais de uma vida mais digna.

Quando se for necessário recorrer ao Direito Penal que se usem, nos casos de baixa e média gravidade, as penas e medidas alternativas que são a forma que têm demonstrado maior eficácia de ressocialização.

Na minha visão de aluno de Direito, e professor universitário,  com uma experiência de mais de 24 anos de atuação médica, tenho a mais profunda convicção de que a aplicação de penas alternativas deveria ser uma opção em crimes com penas de menos de quatro anos, enquanto o encarceramento em crimes com penas de mais de oito anos.

É importante seguir adiante, com uma visão mais humanista. Ao invés de punirmos com severidade, vamos, com seriedade, resgatar aquele que, embora escondido atrás da delinquência, é, ainda, um ser humano.

Semana Jurídica Univem XXIX .

“Imagine uma nova história para sua vida e acredite nela”.

Paulo Coelho

Semana XXIX Jurídica Univem. Estatuto da Criança e do Adolescente: Responsabilidade da sociedade e do Estado

No dia 25 desse mês ocorreu a palestra sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente  (ECA) proferida pelo Juiz de Direito de Fernandópolis, e também  professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Evandro Pelarin.

Primeiramente o professor Evandro abordou juridicamente o ECA, e destacou que o poder familiar deve ser exercido pelos pais, e que a omissão em não exercê-lo pode se caracterizar  como forma de descumprimento do mesmo.

Outrossim, o palestrante narrou várias situações fáticas  que ocorrem em sua cidade no tocante ao comportamento de pais que abandonam seus filhos com a torpe desculpa que os filhos podem estar desacompanhados de suas presenças, em casa ou em locais públicos  distantes , tais como Lojas de Conveniência em postos de  combustível, bares e restaurantes, Shopping Center, etc.

O que ficou claro na palestra, é  que todos podem participar na aplicação do ECA, e que todos os atores sociais,  além do Poder Judiciário se tornam determinantes e partícipes na efetividade  das normas positivas impostas aos pais e aos infratores  do mesmo.

Perguntado sobre a maioridade penal, o conferencista é a favor de redução da mesma para 16 anos, mas somente para crimes hediondos.

O professor Evandro aventa a hipótese de no Estado de São Paulo as internações  que ocorrem na  Fundação Casa serem maiores que 3 anos  como forma de possibilitar a ressocialização do infrator  em medida sócio-educativa (Lei 8069 /90 ECA).

Defendeu a ideia da redução da maioridade penal, porém enfatizou que enquanto tal proposta feita pela sociedade não for aprovada pelo Congresso Nacional, a sociedade  é responsável pelo cumprimento do ECA, além do Poder Judiciário que representa o Estado, além de todo cidadão brasileiro que deve fiscalizar o cumprimento das normas positivadas no mesmo.

Semana Jurídica Univem XXIX de 2012.

Imperdível !

Sucesso absoluto !

” Um homem de virtude somente nascerá de pais virtuosos.” Aristóteles

Semana XXIX Jurídica Univem. Palestra sobre o Retrocesso da Política Nacional do Meio Ambiente

PROFESSORA-NORMA-24-10-2012-300x225O Univem iniciou ontem a XXIX Semana Jurídica.

A palestra do primeiro dia foi ministrada pela  professora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e do Programa de Doutorado e Mestrado da Universidade Católica de Santos, Norma Sueli Padilha.

O tema abordado foi “Retrocesso da Política Nacional do Meio Ambiente”.

Segundo a professora Norma, o Código Florestal aprovado recentemente pelo Congresso Nacional é na verdade um “Código Agrícola”, pois aprovado como foi,  não punirá ninguém que tenha feito desmatamento ilegal até 2008, e ainda assim, a preservação da mata ciliar a beira dos rios de 15 metros no mínimo, é menor que o projeto original de 30 metros.

Aduz ainda a palestrante que o tratamento de esgoto, energias alternativas sem impacto no meio ambiente, e educação sobre Política do Meio Ambiente devem discutidos com a sociedade em todos os níveis: ensino fundamental, médio e superior.

Norma Padilha, advogada , Doutora e Mestre em Direito Ambiental, pela PUC de São Paulo,  e Pós Doutoranda em Ética Ambiental pela Unicamp, recebeu o prêmio  Jabuti na categoria livro jurídico por sua obra – Fundamentos  Constitucionais do Direito Ambiental Brasileiro.

Por fim,  encerrou a palestra afirmando que a geração jovem de hoje é a esperança da conscientização  sobre a importância de preservação do meio ambiente

Semana Jurídica Univem 2012 imperdível !

“O primeiro passo em direção ao sucesso é dado quando você se recusa a ser prisioneiro do ambiente no qual você inicialmente se encontra”.

Mark Caine

Ser um médico no Brasil. Um sacerdócio permanente!

dia do medico 3Os médicos têm razões, sim, para celebrar o seu dia (18 de outubro).

Nos últimos anos, a categoria mostrou força com grandes mobilizações em todo o país.

Unidos, buscam melhorias nas condições de trabalho, financiamento adequado para o setor e qualificação da assistência.

São reconhecidos pela forma inovadora como se dedicam à análise de temas complexos, dando parâmetros importantes para todos.

As pesquisas dos últimos anos revelam a credibilidade da categoria.

A maioria dos brasileiros avalia o atendimento do último médico visitado como excelente ou muito bom (57%). Na rede pública de assistência, 50% dos pacientes consideraram o atendimento excelente ou muito bom.

No grupo dos que consultam médicos credenciados a planos de saúde, 70% sustentam essa avaliação.

Quando o atendimento é particular, o índice sobe para 73%.

Estes são os números indicados no relatório final de pesquisa realizada no Brasil pelo Ibope Inteligência entre agosto e setembro de 2011, em parceria com a Worldwide Independent Network Research (WIN).

Sobre a confiança, o médico está na terceira profissão com mais credibilidade no mundo (84%), atrás apenas dos bombeiros e carteiros – dados coletados de pesquisa realizada pelo instituto alemão GFK em 19 países. No Brasil, os médicos apontaram uma média ainda melhor: 87% dos brasileiros dizem confiar no seu médico.

A criação e o estabelecimento do SUS foi o ápice de uma luta para a conquista, pelo povo brasileiro, de um sistema que encerra os princípios da universalidade, equidade e integralidade.

Ainda são muitos, porém, os problemas e os desafios do setor. Mas os médicos brasileiros seguem tendo papel importante na busca de soluções para tais questões.

Entre os maiores entraves, estão a desigual distribuição de profissionais pelo território brasileiro e entre os setores privado e público, além do subfinanciamento do SUS e sua falta de infraestrutura.

“Amar ao próximo como a si mesmo.”

Nenhum profissional desempenha com tanto rigor este mandamento como os médicos, a quem confiamos nossas vidas nos momentos mais difíceis.

Por isso, assim como o magistrado, o exercício da medicina deve ser exercido por profissionais capacitados, pois se trata de uma das profissões mais nobres e requisitadas por nossa população.

A medicina é uma profissão invejável.

Como poderia um médico deixar de comemorar o seu dia, por conta de quaisquer dificuldades.

A questão talvez seja de enfoque.

Dificuldades certamente existem, mas são inerentes a todas as profissões.

As variáveis positivas certamente que são em número muito maior do que aquelas que poderíamos chamar de negativas.

Não fiquei rico com a medicina, nem ficarei mais aos 48 anos, até porque fiz a opção de ser docente, um servidor público…

Filho de Emilia Sanches Marchioli e Silvio Marchioli  (in memorian), nasci em Marília, e posso dizer que ser médico já valeu a minha existência nessa vida.

Meus pais nem tiveram ensino fundamental.

Contudo, aprendi que antes de ser médico se deve ter caráter !

Ser profissional com dedicação à profissão, e ter ética cristã no dia a dia.

Segredos que passo aos colegas de profissão, e de docência em universidades.

Ensinar e cuidar !

Parabéns a todos os médicos pelo seu dia !

O Dia do Médico !

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“O médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe”.

Abel Salazar

Um patrono à altura dos defensores dos cursos de medicina modelo PBL made in Brazil

PAULO FREIREO “PBL made in Brazil” é uma farsa travestida de ares de  vanguarda, mas não se engane o aluno.

O curso não tem aulas e laboratórios com atividades práticas de  anatomia, fisiologia, histologia e patologia.

Muito menos disciplinas de microbiologia, imunologia, parasitologia e farmacologia.

Os “pedagogos comunistas” adoram o Paulo Freire.

E tudo em decorrência da renúncia dos cursos de medicina  no modelo  pedagógico “PBL  made in Brazil”: sem aulas  e sem conteúdos temáticos oferecidos em aulas magnas.

É um carrossel de frases prontas para doutrinar os alunos mais resistentes: “aprender a aprender”, “criticidade social”, “biopsissosocial”, “primeira aproximação”, “sucessivas aproximações”, “ensinamento em espiral”, e outras de natureza eminentemente dissimuladas e inverídicas.

Aleivosias pedagógicas

Galhofices pedagógicas

Ao se ter Paulo Freire como referencial  pedagógico nesses cursos de medicina em manuais de série e de manual de avaliação já se pode imaginar onde a Diretoria de Graduação almeja no aluno egresso…

A lugar nenhum.

Apenas avaliação formativa…

E logo aplicar um conceito interpretativo na sua avaliação!(grifei)

Nada de provas objetivas.

Conceitos emitidos na avaliação: Satisfatório e Insatisfatório.

Nesse artigo de  Carlos Ramalhete se tem uma clara ideia de que Paulo Freire representa para os marxistas culturais.

No PISA 2003 o Brasil ficou na penúltima colocação  na maiorias dos conteúdos pesquisados ( Tunísia foi a última colocada).

Um patrono à altura

Vivemos atualmente a dissolução de uma sociedade edificada ao longo de milênios. É uma longa e bela construção, fundada na filosofia grega e no personalismo judaico-cristão, e burilada ao longo dos séculos. Essa sociedade nos deu a noção de que todos têm direitos inalienáveis; que a natureza pode e deve ser estudada e, ao mesmo tempo, preservada; que o Belo e o Bom têm valor. Deu-nos as universidades, a democracia representativa, o reconhecimento da dignidade dos mais fracos.

Este imenso patrimônio cultural é a herança a que cada brasileiro tem – ou teria – direito. O que vemos, contudo, é o oposto. Mais de um terço dos universitários são analfabetos funcionais. As escolas servem à doutrinação política e à “desmitificação” dos valores da nossa sociedade, deixando de lado o ensino e a preservação da cultura.

Paulo Freire, um dos maiores culpados deste estado de coisas no Brasil, recebeu, com razão, o título de “Patrono da Educação Brasileira”. É justo que ele seja o patrono de uma “educação” que não é capaz de ensinar a ler e escrever, mas que martela nos alunos uma visão tão deturpada do mundo que é mais fácil encontrar dez estudantes que creiam que a luta de classes é uma lei da natureza que achar um que saiba enunciar a Segunda Lei da Termodinâmica.

A História e a Geografia passam a ser apenas denúncia de supostas monstruosidades; o vernáculo, na melhor das hipóteses, uma tentativa de reproduzir a verbalidade. As ciências – deixadas quase de lado –, uma sucessão de conteúdos “bancários”, no dizer dos seguidores do falso profeta recifense. Faz-se força para enfiar alguma ideologia nas ciências, mas não há luta de classes na Química ou opressão econômica na Física. Fica difícil.

Só o que fez este triste patrono foi descobrir que o aluno é um público cativo para a doutrinação marxista. A educação deixa de ser uma abertura para o mundo, uma chance de tomar posse de nossa herança cultural, e passa a ser apenas a isca com a qual se há de fisgar mais um inocente útil para destruir a herança que não conhece.

As matérias pedagógicas da licenciatura resumem-se hoje à repetição incessante, em palavras levemente diferentes, das mesmas inanidades iconoclastas. Os cursos da área de Humanas, com raras exceções, são mais do mesmo, sem outra preocupação que não acusar aquilo que não se dá ao aluno a chance de conhecer. O que seria direito dele receber como herança.

Paulo Freire é o patrono da substituição de conhecimento por ideologia comunista, de aprendizado em temas de medicina aos princípios do comunismo de Karl Marx.

Merece o título de “O Patrono dos Analfabetos Funcionais”.

Fonte- Gazeta do Povo

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Não à formação de médicos no Brasil sem qualificação para o exercício da medicina !

adib jatene 2Adib Jatene pode deixar comissão do MEC por discordar da abertura indiscriminada de escolas.

Aos 83 anos de vida e quase 60 de medicina,  Adib Jatene é uma referência para os médicos brasileiros na prática clínica, cirúrgica e no ensino médico.

A formação médica, tema desta entrevista, o fez voltar a participar do governo federal em 2008, 12 anos depois de exercer pela terceira vez o cargo de ministro da Saúde.

Mas agora a continuidade desta participação depende de uma improvável sintonia fina. De um lado, os especialistas que defendem critérios e fiscalização para garantir a qualidade das escolas médicas no país. Do outro, o Ministério da Educação, cujas decisões parecem caminhar na direção oposta.

Conheça agora os motivos desta discordância e as opiniões, sempre francas e contundentes, do professor Adib a este respeito.

O senhor continua presidindo a comissão de especialistas, ligada ao MEC, que avalia as escolas médicas?
Continuo. Mas, em função das posições divergentes entre os membros da comissão e o ministério, solicitei recentemente ao ministro [Aloizio Mercadante], durante uma reunião, que a comissão fosse encerrada. Ele não aceitou, pediu que fizéssemos mais uma reunião, que será marcada proximamente, e nos garantiu que, até lá, nenhuma nova escola será autorizada.

Quais motivos o levaram a pedir o fim da comissão?
Em 1996, havia 84 escolas médicas; em 2011, já eram 187. São 103 novas escolas em 16 anos, o que é inconcebível. No último dia 5 de junho, o governo permitiu a abertura de mais nove cursos privados de medicina e autorizou que outros 19 em universidade federais fossem implantados após avaliação.

É impossível garantir corpo docente condizente e hospitais-escola nesta quantidade. O artifício que as faculdades têm utilizado é firmar convênios com hospitais assistenciais para lá treinar os alunos, o que é absolutamente inadequado.
Um dos objetivos da comissão era justamente estabelecer critérios mínimos para a abertura de escolas? Por fim, estes acabaram não sendo respeitados…

Em relação às 17 escolas mal avaliadas no Enade [Exame Nacional de Desempenho de Estudantes] em 2008, pelo menos dois membros da comissão visitaram cada uma delas, entrevistaram professores, alunos, vistoriaram a infraestrutura e encontramos muitos problemas.

Em Rondônia, por exemplo, a faculdade de medicina da universidade federal tinha convênio com o único hospital público. Depois abriram mais duas escolas com 100 vagas cada tendo como campo de ensino prático o mesmo hospital. Como a comissão não tinha poderes para determinar o fechamento de escolas, o que fizemos foi reduzir o número de vagas. Mas, na sequência, o Conselho Nacional de Educação restituiu essas vagas, à revelia da comissão, o que nos fez denunciar esta situação à opinião pública.

Existe um verdadeiro lobby pela abertura de novas escolas. O governo coloca que o atual número de médicos no Brasil é insuficiente. Diante da dificuldade de atrair profissionais de medicina para a Estratégia de Saúde da Família, o governo passou a apoiar a “importação” de médicos. Foi criado o programa Revalida, com critérios uniformes para a revalidação dos diplomas expedidos no exterior, mas poucos candidatos conseguiram aprovação. Agora o governo quer minimizar esses requisitos ou permitir que esses médicos comecem a atuar sob supervisão por um período de dois anos até conseguirem a revalidação, o que é inaceitável. Então, se o ministério caminha numa direção e a comissão em outra, esta não pode ser a sua assessora.

A que atribui este lobby pela abertura de escolas? Aos interesses econômicos das instituições?
À busca de prestígio para a universidade ou a cidade. Como está sendo fácil, todo mundo quer ter uma escola de medicina. A pressão é muito grande; há dezenas de pedidos. É absolutamente inconveniente que os cursos sejam criados dessa forma. O Brasil não precisa de qualquer médico, mas de profissionais efetivamente preparados para tratar a população. A própria visão sobre a residência médica está equivocada. Ela forma especialistas. Com o foco precoce na especialidade, durante a graduação o aluno já se orienta para aquela área escolhida em detrimento das demais.

Por isso, tenho defendido o estabelecimento de um pré-requisito para o ingresso na residência, que seria a atuação por dois anos na Estratégia de Saúde da Família, supervisionado pela sua escola, com o objetivo de que esta também tenha a responsabilidade de formar médicos para o atendimento da população sem dependência de alta tecnologia. Isso seria primordial porque ocorre uma grave distorção atualmente. Os professores são todos especialistas, mas professores especialistas são necessários na pós, não na graduação, quando se deve formar o médico com visão geral e profunda das principais questões da assistência à população. Essa super especialização está gerando enorme desperdício de recursos, como o colosso de exames desnecessários, e dificulta o atendimento, porque o indivíduo só consegue ter seu problema resolvido depois de passar por três ou quatro médicos.

As entidades médicas estão mais preocupadas em discutir a qualidade da formação dos profissionais do que a quantidade. Está de acordo com este ponto de vista?
Sim. Quando as entidades médicas se pronunciam a este respeito, infelizmente são vistas por alguns como corporativistas, defensoras de reserva de mercado, mas claro que não é isso. As entidades querem médicos bem preparados para atender a população, que não coloquem os pacientes em risco e nem a si próprios, tendo em vista as responsabilidades do profissional. E não compactuam com essa ideia absurda de aumentar a quantidade de médicos a qualquer custo.

Como avalia o ensino médico no Brasil?
Eu me formei em 1953, quando só havia raio-X, eletrocardiograma e poucos exames laboratoriais, e o curso era de seis anos. Com todo o enorme avanço técnico e científico ocorrido desde então, a graduação de medicina continua em seis anos. Há certa perplexidade sobre o que ensinar para os alunos. Na minha visão, deve ser ensinado de todas as especialidades o que o médico prático não pode deixar de saber. E bem ensinado. É fundamental haver critérios para a abertura de escolas médicas. A recém-criada Faculdade Santa Marcelina é um exemplo positivo, pois está ligada a um hospital de mais de 700 leitos, grande volume de atendimento de emergência, tem ambulatório de especialidades, mais de 200 equipes de Saúde da Família, administra outros três hospitais (Cidade Tiradentes, Itaim Paulista e Itaquaquecetuba). É o ideal para o ensino-aprendizagem. Mas uma universidade que nunca lidou com saúde criar uma faculdade de medicina sem qualquer estrutura é uma distorção inaceitável.

Caso a comissão seja encerrada, pretende continuar militando em prol da qualidade do ensino médico?
Se o MEC aceitar manter a comissão, terá de mudar sua orientação sobre tudo o que já citamos. Caso contrário, procuraremos atuar de outra forma que não na comissão. Todos os integrantes da comissão têm décadas de trabalho nesta área e, justamente por isso, não podem aceitar o que vem ocorrendo. Continuaremos defendendo este ideal, da mesma maneira que as entidades médicas como a APM, a Associação Médica Brasileira, o Conselho Federal de Medicina e os Conselhos Regionais o fazem. Nosso papel lá era verbalizar este posicionamento da classe médica contra a abertura indiscriminada de escolas. Vamos aguardar a decisão final sobre este trabalho.

Fonte: Associação Paulista de Medicina

formação médica