Caso Mengele. Museu de Anatomia localizado no Hospital das Clínicas de Marília. Descaso com acervo histórico !

Em 1985, na cidade de São Paulo, o professor doutor Ramón Sabaté Manubens – à época, professor de anatomia da Famema (1968-1986) – ao lado de outros profissionais da Secretaria de Segurança  Pública de São Paulo, entre os quais,  o Professor Daniel Romero Muñoz (USP), concedia entrevista coletiva aos jornalistas do Brasil e do mundo.

Afirmava, antes mesmo da utilização do DNA para investigação de identidades suspeitas em medicina forense, que o esqueleto de um homem sepultado no Cemitério do Rosário, cidade de Embu das Artes – Estado de São  Paulo- era do fugitivo médico nazista Josef Mengele, o qual trabalhava no campo de concentração de Auschwitz.

Para a surpresa do Serviço Secreto  de  Inteligência de Israel – Mossad  (que procurou por nazistas foragidos da Segunda Guerra Mundial) tratava-se dos ossos do médico nazista  Josef Mengele.

Josef Mengele (Günzburg, 16 de março de 1911 — Bertioga 7 de fevereiro de 1979) foi um médico alemão que se tornou conhecido por ter atuado durante o regime nazista.

O apelido de Mengele era Beppo, mas era conhecido como Todesengel, “O Anjo da Morte”, no campo de concentração.

Morreu em 1979.

Aparentemente, estava no mar e teve um derrame cerebral ou infarto do miocárdio.

Estava em uma praia de Bertioga (SP), com conhecidos seus, um casal de austríacos, que  alegaram que quando descobriram quem o indivíduo era, já tinham feito amizade com o mesmo, e ficaram com medo de denunciá-lo.

Nesta época, usava a identidade falsa de outro conhecido, Wolfgang Gerhard.

A polícia alemã só descobriu que Mengele estivera no Brasil em 1985, e a investigação levou ao casal de amigos, que confessou e apontou o túmulo.

Uma exumação de “Wolfgang Gerhard”, em 1985, confirmou que tratava-se, efetivamente, do médico nazista.

A análise foi confirmada por DNA, anos depois.

A história é do conhecimento de todos.

Mas há uma história que não é do conhecimento de todos.

Todo o trabalho de fotografias do professor Ramón Sabaté Manubens está se deteriorando em uma pequena sala nos porões do Hospital das Clínicas de Marília.

Lastimável que a disciplina de anatomia da Famema tenha tão pouco zelo com o trabalho brilhante que o professor Ramon prestou  à sociedade  mundial.

O Mossad (Serviço Secreto de Israel) até duvidou da descoberta  dos médicos brasileiros em 1985.

Presenciei  este acervo fotográfico nos porões do Hospital das  Clínicas de Marília (guardado em caixas de papel em sala fechada, não exposta ao público e se deteriorando),  e constatei mais de 50 quadros que o professor fotografou em seu trabalho de exumação, mas que agora devem se deteriorar em pouco tempo, pois são fotos, e sendo papel,  logo irão se deteriorar.

As caixas estão no chão em uma sala em contato com umidade proveniente da limpeza que ocorre no corredor de acesso ao laboratório de anatomia.

Parte do acervo dessa exumação está na Unicamp, como as reconstituições em resina de partes do crânio para estudos de acidentes anatômicos, e suas correspondências nas fotos.

O trabalho era de 1985, e não havia a tomografia e ressonância magnética como há nos dias atuais.

A dificuldade era grande.

Então, se pode imaginar a beleza desse  trabalho em afirmar, à época, que era o esqueleto  do médico nazista Josef Mengele.

Um marco  de eficiência para a disciplina de anatomia  da Faculdade de Medicina de Marília, mas que infelizmente está todo o acervo se deteriorando nos porões do Hospital das Clínicas de Marília.

Lamentável.

Tempos depois (1992), em  pesquisa posterior com DNA (análise de material genético do filho de Josef Mengele e a ossada exumada) confirmou-se o que apontavam os anatomistas brasileiros – Professor Ramón Sabaté Manubens (Famema)  e Professor Daniel Romero Muñoz (USP) – a ossada exumada era de Josef Mengele.

Mas enquanto isso na Famema…

O trabalho de quase 30 anos está nos porões do Hospital das Clínicas da Famema.

Fiz requerimento em 2011, e até agora quase dez meses depois nada mudou, e apontei a importância da perda das fotos.

A docente responsável pela Laboratório de Anatomia –  Professora Teresa Prado da Silva, em conversa pessoal comigo, e com a Diretoria Geral de Graduação,  se comprometeram a resolver a situação.

Contudo, estive recentemente pelas instalações do Labotatório de Anatomia, Hospital das Clínicas de Marília, onde funciona a disciplina de anatomia, e nada de exposição do acervo.

Alunos da Graduação  da Famema nem sabem desse acervo.

É bom lembrar que a Constituição Federal regulamenta a preservação de acervos, e no caso, em tela, é exemplo cabal do desrespeito da Famema à Carta Magna do Brasil.

Assim fiz o requerimento.

“ILMO. SR. PROF. EVERTON SANDOVAL GIGLIO

Diretor Acadêmico da Faculdade de Medicina de Marília

 REQUERIMENTO


         Eu, Milton Marchioli, professor da disciplina da Educação em Ciências da Saúde, venho requerer e propor o que se segue:

Dos fatos:

         Ao visitar o museu de anatomia da Famema pude observar em minha estada recente no museu de anatomia total desleixo em relação à manutenção de peças que deveriam ser expostas no mesmo.

          Há uma de série de quadros de medicina legal, do famoso caso de Josef Mengele, médico nazista exumado em junho de 1985 no Brasil, e tendo seu esqueleto montado pelo ex-professor doutor da disciplina de anatomia da Famema – Ramón Sabaté Manubens, totalmente guardados em CAIXAS DE PAPELÃO, e NÃO EXPOSTOS no referido museu.

         Ao conversar com dois funcionários do museu percebi que nenhuma “ordem” ou “orientação” fora passada aos mesmos para que os quadros fossem expostos no museu, e sendo assim,  pudessem, não somente servirem de acervo para estudos em temas de medicina legal, como também registrar fato de grandeza acadêmica a Famema e ao professor doutor Ramón Sabaté Manubens, que ao lado do professor Daniel  Romero Munõz – Universidade de São Paulo, selou a tão ‘caça’ ao  paradeiro do médico foragido da Alemanha, e morto no Brasil em 1979, mas exumado em 1985. À época dos fatos, os professores sem a tecnologia disponível hoje, tal como, tomografia computadorizada, ressonância magnética e DNA afirmaram categoricamente ser o esqueleto do médico nazista.

         Há uma grande sala ao lado do museu que poderia ser usada para a exposição dos quadros, e ampliar o acervo do museu com esse marco para a medicina legal de Marília, pois é fato que os alunos do curso de medicina nada saibam de tal fato- O CASO MENGELE, de repercussão internacional nos anos 80, e que permanecem CAIXAS DE PAPELÃO nos porões do Hospital das Clínicas,e que chegara no ano de 1985 ao seu encerramento com a exumação de Josef Mengele e medicina legal aplicada ao caso com a participação do professor Ramón Sabaté Manubens.

Do Pedido:

         Providenciar URGENTEMENTE recuperação ao acervo e exposição dos quadros do – O CASO MENGELE – em sala ao lado do museu para os alunos de medicina atentarem a importância da medicina legal na cultura médica ao longo do curso de medicina.

 Nestes termos,

Pede Deferimento,

 Marília, 25 de Fevereiro de 2011

Prof. Dr. Milton Marchioli “

Lamento informar que até agora  nada mudou…

A Famema se orgulha do seu modelo ensino “PBL made in Brasil” , mas a verdade nua e crua é que na questão administrativa somos ineficientes.

Assim, reitero a Diretoria Geral de Graduação , ou a quem seja responsável, que urgentemente tome providências neste caso, sem solução até o presente momento.

O Serviço Secreto de Inteligência de  Israel – Mossad  duvidou do Professor Ramón Sabaté Manubens em 1985.

Mas, tiveram que  se calar com a confirmação pelos teste de DNA – obtido de seu filho que residia na Europa, e confrontado com material genética da ossada exumada no Brasil.

Nossa pequena homenagem nesse blog ao Professor  Ramon, pois fui seu aluno em 1983, e sei de sua competência, que aliás, criou o Museu de Anatomia da Faculdade de Medicina de Marília (Famema).

“Uma criança, cega de nascença, só sabe de sua cegueira se alguém lhe conta”.

Martin Luther King

11 comentários em “Caso Mengele. Museu de Anatomia localizado no Hospital das Clínicas de Marília. Descaso com acervo histórico !”

  1. …DR RAMON SABATÉ MANUBENS….UMA DAS PESSOAS MAIS RESPEITÁVEIS QUE CONHECI ….EM SÃO BERNARDO DO CAMPO ONDE ESTUDOU NO COLÉGIO JOÃO RAMALHO…ONDE O CONHECI …AINDA ADOLESCENTE !!!…

  2. Incrivel esse país, tudo que é coisa ruim vem pra cá, e se dá bem, Ronald Biggs, Menguele, Adolf Aisheman, outro carrasco nazista, passou por aqui antes de se esconder na Argentina … entre outros … Brasil o esgoto do mundo …

  3. O Prof. Dr. Ramon, era á época médico legista na cidade de Marília e lecionava, em várias faculdades na região. Participou da equipe que exumou Josef Mengele, na qualidade de médico legista indicado pela Secretaria de Segurança do Estado de S. Paulo. Na época lecionava medicina legal na fundação Eurípedes Sores da Rocha (Fac. de Direito), onde fui seu aluno. Me lembro que o Prof. Ramon trouxe um vasto material relativo à exumação para a Faculdade de Direito. A Fundação montou uma sala especialmente para receber este material, e organizou-o de forma didática. Lembro-me que tinha um imenso conjunto de fotografias, e até réplicas do crânio. Não seria o caso de incorporar os dois acervos ( Fac. de Direito e o da Medicina), e dar um destino didático.

    1. Oi Letícia. Infelizmente nada foi feito. E o acervo continua se deteriorando. No Brasil trabalhos científicos e internacionais nem sempre são valorizados pelas próprias instituição de origem ou pelos docentes que ocupam o cargo de chefia do Departamento.Lamentável!

  4. Prezado Milton: Fiquei emocionado com suas palavras referentes à minha pessoa em seu site, especialmente no artigo sobre o Caso Mengele e a citação do meu nome como ex-professor e ex-aluno quando falou sobre a Famema. Deverei vir a Marília nas próximas semanas, e pretendo cumprimentá-lo pessoalmente, se for possível. Abandonei a Anatomia e atuo como Perito Judicial e Assistente Técnico em perícias médicas trabalhistas em Sorocaba e São Paulo. Um grande abraço Ramón Sabaté Manubens (15) 9733-1063

    1. Será uma honra para mim revê-lo…
      Fui seu aluno durante o ano de 1983 na Famema, e fiquei muito entristecido ao ver que o acervo do Caso Mengele está se deteriorando nos porões do Hospital das Clínicas, acondicionado em caixas de papelão postas no chão…
      Se perdendo com a umidade do solo.
      Um caso internacional da medicina forense sendo perdido nos porões do HC.
      Voltei a Famema em 2006, e um dia quis ver o acervo do Caso Mengele em 2010, e para minha surpresa está se deteriorando…
      Fiz requerimento à Diretoria Acadêmica, e nada de resposta efetiva até agora (2012).
      Uma situação lastimável.
      Estou lutando aqui para tentar recuperar esse acervo, mas a luta é árdua, pois o tal de PBL parece ter mexido com a capacidade de discernimento dos gestores…
      Os alunos fazem Med Curso, obtém grandes notas e os “louros da vitória” vão para a Famema.
      Não temos mais laboratórios professor… nem aulas de anatomia, de fisiologia, patologia, farmacologia, microbiologia, parasitologia, etc.
      E com o “notaço” do Enade… A Famema se vangloria daquilo que já foi um dia: formadora de grandes profissionais.
      Hoje não mais o ensino tradicional… apenas um passado glorioso.
      Lamentável pensar que uma ferramenta de ensino,”PBL made in Famema ” se transformou em filosofia de ensino.
      Aguardo sua presença em Marília professor…

      Abração,

      Milton Marchioli

  5. Olá. Sou jornalista, nascida em Marília, mas moro em SP. Fiquei sabendo do caso Mengele ha alguns anos, quando uma aluna do Jornalismo da mesma faculdade que eu, decidiu fazer um TCC sobre o caso. Eu lamento que a FAMEMA não se importe com isso. Tomei a liberdade de encaminhar o seu texto para alguns jornalistas e compartilha-lo nas redes sociais, porque considero o trabalho do Dr. Sabaté e a luta pela presevação do mesmo, essencial, para a história mundial. Não entendo, como não se produz nada a respeito, enfim…quem sabe com uma exposição maior do assunto, a FAMEMA tome alguma atitude. Obrigada pelo post. Abs.

    1. Letícia
      Obrigado pelo seu apoio.
      O fato é desastroso para a medicina legal brasileira, pois um trabalho de repercussão internacional no anos 80, está se deteriorando em caixas de papelão nos porões do Hospital das Clínicas de Marília.
      Fiz o requerimento em fevereiro de 2011 à Diretoria Acadêmica, e até agora nada de recuperação e exposição do acervo.
      Agradeço, desde já, sua posição em querer lutar também nesse projeto de recuperação do acervo, pois é previsto na Constituição Federal do Brasil, a previsão legal de custódia e manutenção de acervos.
      abração
      Prof. Marchioli

  6. Que pena!!! Uma Faculdade que não comemora com orgulho um feito destes, desrespeita a memória de seus professores que em sua simplicidade são ilustres, como o Dr Ramón Sabaté Manubens…Vamos expor estes quadros…Os alunos da FAMEMA merecem conhecê-los. Os diretores da Fundação Simon Wiesental, gostaria muito de tê-los em seus arquivos

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