Seminário sobre Cefaleias Primárias apresentado pelos alunos THAILA PINE GONDEK, PAULO SIQUEIRA DO AMARAL, MAYARA BRANCO E SILVA, ISABELA FERNANDES JORGE e LEANDRO HEIDI TSUJI HONDA.
1. Introdução
De modo geral, as cefaleias estão entre os principais motivos que levam a procura de auxílio médico e tanto o seu diagnóstico, como o seu tratamento, são baseados em uma ampla abordagem clínica envolvendo conhecimentos anatômicos, fisiológicos e farmacológicos. que envolvem diferentes vias do sistema nervoso central.
O termo cefaleia primaria é utilizado quando a cefaleia não apresenta uma causa predisponente. É uma das grandes causas de incapacitação das atividades diárias e redução da qualidade de vida.
Existem diversos tipos de cefaleias primaria, mas três delas merecem muita atenção pela frequência e importância na prática clínica:
• Cefaleia tensional
• Enxaqueca ou Migrânea
• Cefaleias autonômicas do trigêmeo (cefaleia em salvas é a principal representante)
2. Cefaleia Tensional
É a causa mais comum de cefaleia primaria, variando de 30-78% de prevalência em diversos estudos.
É caracterizada por um desconforto bilateral, de caráter constritivo, em faixa, com lenta progressão, oscilando em intensidade, sem a presença de náuseas ou vômitos, com duração de 30 minutos a 7 dias e são divididas de acordo com sua frequência em dois grupos:
- Cefaleia tensional episódica de baixa frequência
- Cefaleia tensional episódica de alta frequência
- Cefaleia tensional Crônica
2.1. Cefaleia Tensional de Baixa Frequência
De pouco impacto na vida social dos pacientes, esse tipo de cefaleia não é alvo de grandes atenções na prática clínica.
Seu diagnóstico é definido pela International Classification of Headache Disorders II (ICHD-II) de acordo com os critérios abaixo:
• Presença de no mínimo 10 episódios/ano, ocorrendo menos de uma vez ao mês preenchendo os demais critérios.
• Duração de 30 minutos a 7 dias
• Apresentar no mínimo duas das características a seguir: localização bilateral; qualidade em aperto; leve a moderada intensidade; ausência de agravamento por exercícios de rotina.
• Não apresentar náuseas ou vômitos e ser acompanhada de apenas fono ou fotofobia
2.2. Cefaleia Tensional de Alta Frequência
Diferentemente da cefaleia de baixa frequência, pacientes com varias crises de repetição de cefaleia tensional tendem a apresentar maior frequência.
De acordo com a ICHD-II, o diagnóstico de cefaleia tensional de alta frequência difere somente no que tange ao número de episódios sendo caracterizada por mais de 1 episódio e menos do que 15 durante um mês.
2.3. Cefaleia Tensional Crônica
Aqui o caráter incapacitante é ainda mais pronunciado e novamente a única diferença de critério é o número de crises.
Para ser definida como crônica, a cefaleia tensional precisa ocorrer mais do que 15 vezes ao mês (> 180 dias por ano).
2.4. Tratamento
O tratamento abortivo das crises agudas pode ser realizado com analgésicos simples como paracetamol, dipirona ou AINEs.
Técnicas de relaxamento, acupuntura, e uma abordagem comportamental são muitas vezes efetivas apesar de não reduzir todas as crises.
Para a prevenção de crises nos casos de cefaleia tensional episódica de alta frequência ou de cefaleia tensional crônica, os antidepressivos tricíclicos são muito eficazes.
3. Enxaqueca
É uma grande causa de incapacidade.
A OMS caracteriza a enxaqueca como a 19ª doença mais incapacitante do mundo, muito em função de sua alta prevalência e elevados custos socioeconômicos.
Atinge 15% das mulheres e 6% dos homens sendo a história familiar positiva em grande parte dos casos.
De modo geral a sua apresentação clínica se dá como uma dor unilateral, de caráter pulsátil, de intensidade moderada a severa, sendo agravada por estímulos externos bem com atividades físicas diárias e associada a outros sintomas como náuseas e ou vômitos.
Suas crises duram de 4 a 72 horas e muitas vezes fatores ambientais, de estresse ou até mesmo alterações hormonais durante o ciclo menstrual são reconhecidos como gatilhos para as crises.
O uso de contraceptivo oral pode agravar a frequência e intensidade da dor.
Para fins didáticos a migrânea ou enxaqueca pode ser dividida em dois grandes grupos: a enxaqueca com aura e a enxaqueca sem aura.
O termo aura nada mais é do que a presença de sintomas neurológicos focais que precedem em até 1 hora, ou até mesmo acompanham por algumas horas o quadro de cefaleia.
3.1. Enxaqueca sem Aura
É o subtipo mais comum de enxaqueca e também o mais relacionado à incapacidade, tem uma estrita relação com o ciclo menstrual e classificação das crises de acordo com a frequência em esporádica e crônica é bastante usual.
Seus critérios diagnósticos segundo a ICHD-II são:
• 5 episódios de crise preenchendo os critérios abaixo
• Crises durando de 4 a 72 horas
• Pelo menos 2 dos sintomas a seguir: localização unilateral; caráter pulsátil; moderada a severa intensidade; agravado ou causado por alguma atividade do cotidiano
• Durante a crise um dos seguintes sintomas: náuseas e/ou vômitos e fono e fotofobia
3.2. Enxaqueca com Aura
Esse tipo de enxaqueca é acompanhado de um sintoma neurológico focal que se desenvolve gradualmente em 5-20 minutos e dura menos do que 60 minutos.
De maneira geral sua característica clínica é semelhante às crises sem aura e seu diagnostico pela ICHD-II é feito pelo preenchimento dos critérios anteriores associados a aura.
3.3. Tratamento
Para abortamento das crises agudas diversos fármacos podem ser utilizados, e variam desde AINEs associado a analgésicos, ou ainda agonistas dos receptores serotoninérgicos como os triptanos.
Nesse ponto devemos lembrar que o uso abusivo de analgésicos pode acabar levando a outro tipo de cefaleia conhecida como cefaleia por abuso de medicamentos na tentativa de abortar a crise de enxaqueca.
Entretanto, naqueles pacientes com mais de 4 crises/ mês indica-se tratamento medicamentoso para profilaxia se torna indicado.
As drogas de escolha são os betabloqueadores como o propranolol e o atenolol, antidepressivos tricíclicos, anticonvulsivantes e bloqueadores do canal de cálcio.
4. Cefaleia em Salvas
Parte do grupo das cefaleias autonômicas do trigêmeo, e tem frequência de 0,1% da população.
Usualmente acomete pacientes entre 20-40 anos e tem maior prevalência em homens.
Clinicamente é marcada por uma intensa dor causando inquietação e tentativas desesperadas de fazer o estímulo cessar.
É unilateral, em região orbital, supraorbital e temporal com uma duração de 15 a 180 minutos caracterizada por períodos de crise que podem chegar até oito episódios diários.
Junto ao quadro sintomas como lacrimejamento, congestão nasal, rinorreia, ptose palpebral, miose podem aparecer.
A crise pode ser provocada por uso de álcool, histamina, nitroglicerina e outras substâncias.
Os critérios segundo a ICHD-II são os abaixo:
• Ao menos 5 crises preenchendo os critérios abaixo
• Crises severas, unilaterais, acometendo a região orbital, supraorbital e temporal com duração de 15 a 180 minutos.
• Presença de pelo menos um dos demais sintomas: congestão lacrimal ou lacrimejamento; congestão nasal ou rinorreia; edema palpebral; suor facial; miose ou ptose; sensação de agitação.
• Crises com frequências de uma a oito vezes ao dia
4.1 Tratamento
O tratamento da crise aguda se faz necessário para rápido alivio sintomático uma vez que a intensidade da dor é severa.
Para esse fim a inalação de oxigênio a 100% é o que se mostra mais eficaz.
O uso de sumatriptano subcutâneo pode ser usado para encurtar a crise.
Logo que feito o diagnóstico o início da terapêutica preventiva deve ser instituída, uma vez que as crises são recorrentes durante um longo período inclusive se repetindo várias vezes ao dia.
A corticoterapia com prednisona por 10 dias interrompe os ciclos de dor.
REFERÊNCIA
The International Classification of Headache disorders 2ªed. Blackwell Publishing 2004