Arquivo da tag: Ambulatóro Cefaleia – Ambulatório Mario Covas

Cefaleias Primárias. Anamnese, exame físico e tratamento. Seminário. Curso de Medicina da Famema

dor de cabeça- meninoSeminário apresentando pelos alunos  Juliana Jaime de Souza, Marcos Rezende Junior, Patrícia Millás Ribeiro, Rodolfo Lucas Lins e Valquíria Ferraz de Jesus – alunos do 4º ano do curso de medicina da Faculdade de Medicina de Marília (Famema)- enfatizando as principais características neurológicas das principais cefaleias primárias.

Cefaleia é uma das queixas mais comuns nos serviços de saúde ambulatoriais e de emergência.

Estima-se que, durante toda a vida, 97% de todas as mulheres e 93% de todos os homens apresentarão pelo menos um episódio de dor de cabeça.

Cefaleia é a terceira causa de atendimento nos ambulatórios de clínica médica e a primeira causa de procura pelo neurologista.

Quando se avaliam os principais motivos de atendimento no pronto-socorro (PS), cefaleia está entre os cinco primeiros.

Os motivos da procura ao médico variam desde uma simples explicação para o motivo de ocorrência das cefaleias primárias até a presença de cefaleias incapacitantes, primárias ou secundárias.

A primeira questão que precisa ser entendida pelo médico que atende uma pessoa com queixa de cefaleia é que se trata de uma doença, e também de um sintoma.

De maneira bastante prática, a pergunta que o médico deve responder para si próprio é: trata-se de uma cefaleia primária ou de uma cefaleia secundária?

Cefaleia primária é aquela em que a dor não pode ser atribuída a nenhuma alteração, seja estrutural (tumor, malformação artério-venosa, abscesso cerebral, hidrocefalia, dentre outras), metabólica (hipoglicemia, uremia, hipercapnia, uso de nitratos, dentre outras) ou de outra natureza identificável.

A contrario sensu, aquela dor que é sintoma de uma condição que a justifique, é a chamada cefaleia secundária (por exemplo: cefaleia secundária ao uso de nitratos para o tratamento da insuficiência coronariana; cefaleia secundária à ruptura de um aneurisma intracraniano, cefaleia secundária a meningite, etc.).

De maneira geral, 5% a 10% de todas as cefaleias são secundárias, enquanto a esmagadora maioria é cefaleia primária. Dentre as cefaleias primárias, as três mais frequentes são a enxaqueca, a cefaleia tipo tensional e a cefaleia em salvas ou cefaleia de Horton. Assim, deve ser de domínio de todo o médico o pronto reconhecimento dessas entidades.

Talvez a característica mais marcante das cefaleias primárias seja sua recorrência e estereotipia na apresentação clínica, o que, em geral, não ocorre nas cefaleias secundárias.

Isso ocorre de forma tão consistente que critérios diagnósticos baseados em características clínicas puderam ser estabelecidos.

Em 1988, a Sociedade Internacional de Cefaleia publicou a Classificação e Critérios Diagnósticos das Cefaleias e Algias Faciais, em 2004 sua segunda edição, e 2013 a terceira edição.

Exames Complementares

O exame necessário para investigação varia de acordo com a hipótese considerada. Assim, na suspeita de arterite de células gigantes, o VHS pode ser mais importante que a tomografia computadorizada.

O exame de imagem é exceção no diagnóstico.

Com exceção dos casos de suspeita de sangramento intracraniano e traumatismo de crânio, a ressonância magnética é superior à tomografia computadorizada (TC). No entanto, o menor custo desta última, aliado a sua maior facilidade de realização e disponibilidade, a torna o exame de eleição na maior parte dos casos na unidade de emergência.

Outro exame frequentemente necessário é o líquor. A punção liquórica na unidade de emergência pode estar indicada para a investigação de cefaleia nas seguintes situações:

Cefaleia de início súbito com TC de crânio normal

Cefaleia acompanhada de sinais de infecção

Suspeita de sangramento ou processo inflamatório

Suspeita de hipertensão ou hipotensão intracraniana

Cefaleia associada a déficits de nervos cranianos (quando a TC não esclarecer o diagnóstico e não contraindicar a punção)

Cefaleia em pacientes com neoplasia ou HIV positivos sem lesão intracraniana que contraindique a punção

Como dito anteriormente, de uma forma geral pacientes que preencham critérios para cefaleias primárias e que tenham exame clínico e neurológico normal não necessitam de investigação complementar.

Exceção a esta regra são aqueles pacientes que se apresentem com dor de cabeça com características de cefaleias primárias, mas que têm algum sinal de alerta, ou algum aspecto atípico na apresentação clínica, tais como aura de enxaqueca prolongada (maior que 1 hora) e aura atípica (súbita, estritamente unilateral ou associada a déficits motores, de linguagem ou de nervos cranianos).

 Tabela : Sinais de alerta nas cefaleias

A primeira ou pior Cefaleia da vida do paciente ou Cefaleia de início súbito
Cefaleias de início recente
Cefaleia nova após os 50 anos de idade
Cefaleia associada a alterações do exame neurológico, rebaixamento do nível de consciência, rigidez de nuca ou a febre
Cefaleia nova em paciente com história de neoplasia, infecção pelo HIV ou coagulopatias
Cefaleia após traumatismo de crânio
Cefaleias de esforço
Cefaleias progressivas ou refratárias ao tratamento

 

Algoritmo

Esquemas terapêuticos podem ser administrados havendo espaço para flexibilidade, e associações de drogas.

A escolha deve depender de opções individuais, da intensidade da dor, da disponibilidade, da tolerância e das contraindicações específicas para cada paciente, não havendo regras definitivas.

Muito se discute atualmente se o tratamento sintomático deve ser passo a passo, utilizando drogas progressivamente mais potentes, ou se deve ser estratificado, optando-se em cada paciente pela droga mais adequada conforme a intensidade e o pico de desenvolvimento da dor. Hospitalização para hidratação endovenosa pode ocorrer se o paciente estiver muito prostrado como costuma acontecer no estado de mal enxaquecoso.

O Ambulatório de Cefaleia atende usuários do SUS do Departamento Regional  de Saúde IX do Estado de São Paulo.

dor de cabeça- mulher

Anticonvulsivantes. Seminário. Curso de Medicina da Famema

Seminário apresentado pelo acadêmico Felipe Sanches Paro do  4º ano do curso de medicina da Famema – Ambulatório de Cefaleia – Ambulatório Mário Covas- disciplinas de Neurologia e Educação em Ciências da Saúde sobre o tema anticonvulsivantes.

O seminário discorre sobre os principais anticonvulsivantes mais indicados no tratamento da epilepsia.

O conhecimento da farmacologia  é de fundamental importância para o sucesso no tratamento das crises convulsivas, bem como a escolha de associações com mecanismos de ação diferentes  para maior eficácia nos pacientes com epilepsia.

Infelizmente, o Ministério da Saúde ainda não disponibiliza todos os tipos de anticonvulsivantes  na rede básica de saúde.

Anticonvulsantes são fármacos que, entre outras importantes ações na psiquiatria, também na neurologia evitam ou controlam as crises epilépticas.

Dessa forma os anticonvulsivantes são chamados, na neurologia, como antiepilépticos, e na psiquiatria, como anti-impulsivos e estabilizadores do Humor no Transtorno Afetivo Bipolar.

Pacientes epilépticos podem resistir ao seu uso por não se considerarem bipolares e, ao contrário, os bipolares estranham o fato de terem que tomar um medicamento para epilepsia.

Mas é assim que se faz universalmente.

Alguns desses fármacos, como dissemos, possuem efeitos antimaníacos (antieufóricos) e, possivelmente, antidepressivos (carbamazepina, valproato de sódio, clonazepam), podem ser úteis no tratamento das fortes reações de ira e da conduta impulsiva e agressiva.

Os anticonvulsivantes não devem nunca ser suspensos de forma súbita devido ao risco de produzir crises convulsivas na abstinência.

Os principais anticonvulsivantes usados no Brasil são:
– Carbamazepina
– Fenobarbital
– Gabapentina
– Lamotrigina
– Oxcarbazepina
– Valproato de Sódio
– Topiramato
– Hidantoína

Lutemos por uma Saúde Pública com qualidade !

medicamentos 11

Cefaleias Primárias. Seminário. Curso de Medicina da Famema

cefaleia - ladoSeminário apresentado pela acadêmica Mariana Dioníso – 4º ano de medicina da Famema abordando  a Classificação das Cefaleias Primárias  –  Ambulatório de Cefaleia – Ambulatório Mário Covas – disciplinas Neurologia e Educação em Ciências da Saúde.

Nesse seminário há a abordagem da classificação das cefaleias com enfoque nas cefaleias primárias: enxaqueca, cefaleia tensional e cefaleia em salvas.

As cefaleias primárias são muito frequentes no Ambulatório de Neurologia, e queixa frequente na rede de atenção básica de saúde, Unidade Básica de Saúde (UBS), e Unidade de Saúde da Família (USF).

Os novos fármacos lançados no mercado pela indústria farmacológica têm modificado a história natural das cefaleias primárias.

1. Cefaleias Tipo Tensão

Neste tipo de dores de cabeça, o doente tem episódios recorrentes de cefaleia que podem durar de 30 minutos a semanas. A dor é tipicamente bilateral, com caráter em pressão ou aperto, de intensidade fraca a moderada, não piora com atividade física de rotina e não há náuseas ou vômitos. Os doentes podem descrever a dor como sendo semelhante à que ocorre com o uso de uma fita apertada em volta da cabeça. Verifica-se por vezes uma hipersensibilidade considerável dos músculos do crânio, mandíbula e pescoço, facilmente perceptível através da palpação manual.

A Classificação Internacional de Cefaleias classifica as cefaleias tipo tensão em episódica pouco frequente, episódica frequente e crônica, mediante a frequência das crises. Apesar desta ser a cefaleia primária mais comum e com levado impacto sócio-econômico, a sua causa não está ainda bem esclarecida. podendo dever-se a tensão física (contração muscular ), a tensão psíquica (ansiedade prolongada), ou a ambas.

No tratamento são usadas medidas não farmacológicas e farmacológicas mas, em primeiro lugar, é importante identificar os fatores desencadeantes e agravantes, como por exemplo perturbações do ritmo do sono e ansiedade prolongada, tentando eliminá-los.

Medidas não farmacológicas

  1. Deve ser incentivada a terapêutica ergonômica, assente na correção de postura no local de trabalho e na utilização de mesas e assento adequados.
  2. A fisioterapia está indicada sempre que coexistam perturbações ósteo-articulares ou músculo-esqueléticas com fatores desencadeantes ou agravantes da cefaleia.
  3. As técnicas de relaxamento e o biofeedback conseguem uma melhoria em cerca de 50% dos casos, sobretudo quando associadas. A acupuntura parece aumentar o limiar da dor, mas o seu efeito é de curta duração.
  4. As técnicas cognitivo-comportamentais são indicadas quando coexiste depressão, ansiedade ou nas situações em que o stress e os problemas psicológicos (profissionais, familiares e/ou sociais) sejam os principais desencadeantes das cefaleias.

Medidas farmacológicas
Tratamento sintomático
Os analgésicos simples e os anti-inflamatórios não esteróides (AINE) estão indicados no tratamento dos episódios agudos; todavia não devem ser utilizados mais de 2 vezes por semana. Os relaxantes musculares podem também ser utilizados em tratamentos curtos. Sempre que o número de episódios ultrapasse 15 dias por mês, deve ponderar-se um tratamento preventivo, de modo a evitar um abuso de analgésicos.

Tratamento Preventivo
A terapêutica é baseada na utilização dos antidepressivos clássicos (triciclos) que têm uma ação analgésica independente da anti depressiva, podendo assim ser utilizados em doses pequenas. Os anti depressivos mais recentes, constituem outra opção a considerar. Mais recentemente, e nos casos resistentes às outras medidas, tem sido utilizada a Toxina Botulínica.

2. Cefaleias Trigêmino-Autonômicas (CTA)

Este grupo de cefaleias primárias inclui três subgrupos:

A) Cefaleia em salvas
B) Hemicrania paroxística (HP)
C) Cefaleia unilateral nevralgiforme, de curta duração com injecção conjuntival e lacrimeja mento (SUNCT)

As cefaleias trigêmino-autonômicas (CTA) têm em comum os seguintes fatores: crises com duração de segundos a horas, são unilaterais, têm localização orbitária, supraorbitária ou temporal, são de severidade grave e têm sintomas típicos acompanhantes – olho vermelho, lacrimejamento, congestão nasal e sudorese. Ocorrem geralmente em séries (salvas) que duram semanas ou meses, separados por períodos de melhoria que vão de meses a anos.

É importante sublinhar que quando ocorre pela primeira vez uma cefaleia com características de CTA devem ser excluídas outras causas (malformação vascular craniana, nevralgia do trigêmio, tumor intra craniano), o que requer um exame neurológico apurado e exames de imagem.

Cefaleias em salvas
Geralmente iniciam-se entre os 20 e os 40 anos, sendo a prevalência três a quatro vezes maior em homens, por razões desconhecidas. Nas crises mais fortes, o doente é geralmente incapaz de se deitar e caracteristicamente fica a andar de um lado para o outro.

Hemicrania paroxística (HP)
Surge habitualmente na segunda década e atinge predominantemente o sexo feminino. Os doentes, ao contrário do que se observa na cefaleia em salvas, preferem estar quietos, com a cabeça entre as mãos ou no leito.

Cefaleia unilateral nevralgiforme, de curta duração com injeção conjuntival e lacrimejamento (SUNCT)
Atinge sobretudo os homens. O quadro clínico pode ser mimetizado por lesões que envolvem a hipófise ou a zona posterior do cérebro, razão pela qual deve ser efetuado exame de imagem.

CTA Duração da crise Frequência Distribuição por sexo
Cefaleia em salvas De 15 a 180 minutos De 1 cada 2 dias a 8/dia > Sexo masculino
HP De 2 a 30 minutos > 5 por dia > Sexo feminino
SUNCT De 5 a 240 segundos 3-200/dia > Sexo masculino

 

TRATAMENTO

Cefaleia em Salvas
No tratamento sintomático das crises podem ser utilizados vários agentes terapêuticos: oxigenoterapia, com a administração do oxigênio por máscara por um período de 20 minutos seguido de 5 minutos de descanso, repetindo a administração se necessário; triptanos intra nasais ou em injeção subcutânea (contraindicado nos doentes com hipertensão mal controlada, infarto do miocárdio ou patologia vascular cerebral prévia); lidocaína (substância anestésica) em gotas por via intra nasal e ainda corticosteróides em casos mais complicados.

No tratamento preventivo os fármacos mais utilizados são verapamil e carbonato de lítio.

Verapamil é um fármaco muito utilizado em Cardiologia, razão pelo qual o doente deverá efetuar controle da tensão arterial, pulso e eletrocardiograma ao longo do tratamento, já que o fármaco pode diminuir a condução cardíaca, a pressão arterial e a frequência cardíaca.

O Carbonato de lítio é um fármaco utilizado em psiquiatria, mas a dose utilizado nos doentes com cefaleias em salvas é inferior à utilizada em psiquiatria. O efeito adverso principal é o hipotiroidismo.

Vários fármacos antiepilépticos têm também sido utilizados no tratamento preventivo (ácido valpróico).

Nos casos refratários à terapêutica médica, pode ser efetuado o bloqueio anestésico do nervo grande occipital. Nos últimos tempos, tem vindo a ser utilizada a neuroestimulação hipotalâmica, a qual é uma técnica neurocirúrgica.

Hemicrânia paroxística

O tratamento deve ser feito com indometacina (anti-inflamatório não esteróide), medicamento de eleição, já que é mesmo requisito para o diagnóstico a resposta favorável ao fármaco. A duração do tratamento deve ser prolongada para além da fase dolorosa.

Cefaleia unilateral nevralgiforme, de curta duração com injeção conjuntival e lacrimejamento (SUNCT)

É considerada a cefaleia mais resistente ao tratamento, frequentemente refratária à maioria dos fármacos. Recentemente, têm surgido estudos que apontam para a utilização de lamotrigina (um novo agente antiepiléptico) como o fármaco mais apropriado, por ter causado uma remissão parcial ou completa na maioria dos casos.

O Ambulatório de Cefaleia recebe encaminhamento de usuários SUS pelo Departamento Regional de Saúde IX do Estado de São Paulo.

Lutemos por uma Saúde Pública com qualidade !

cefaleia azul