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Tese de doutoramento avaliou cursos de medicina e aponta aprendizagem superficial!

farsaNo Estado Neoliberal na vertente e enfoque da organização  político-organizacional, a educação deve ser de qualidade para quem deseja pagar para tê-la, isto é, o Estado somente tem o dever de oferecer o ensino fundamental.

Começou no mundo nos anos de 1970, e no Brasil chegou com o  ex-presidente Fernando Henrique Cardoso  em 1994.

Neste modelo de governo neoliberal, o ensino médio de qualidade deverá  ser pago pelo cidadão  brasileiro pagar para educar seus filhos, se quiserem qualidade.

No ensino universitário a mesma tendência política já começa a se perfilar em algumas faculdades e universidades.

A excelência no padrão de ensino da  USP, UNESP, UNICAMP, e outras universidades federais custa caro aos cofres dos Estados Federados e da União.

Muitos docentes – mestres, doutores, livre-docente, titulares.

Muito dinheiro para a remuneração desses professores, principalmente quando eram contratados no regime estatutário.

No Estado de São Paulo os últimos concursos públicos nesse regime jurídico foi em 2003, e posteriormente no regime CLT.

Então, a solução encontrada na nova proposta de ensino para minimizar custos tem duas vertentes:

Ensino à Distância  (EAD) e o PBL (Problem Based Learning).

Menos professores presenciais.

No EAD, um professor transmite a aula por internet banda larga (teleconferência), e os alunos assistem.

Custo reduzido.

Outra forma de baratear custo, é adotar o “PBL made in Brazil”  em faculdades no ensino superior.

Sob a égide que a pedagogia de transmissão de conteúdos (ensino modelo tradicional) não é a melhor para o processo ensino-aprendizagem, os pedagogos afirmam que a aprendizagem baseada em problemas (ABP ou do inglês PBL) – casos clínicos propostos para alunos  universitários – ainda que, sem aulas ou seminários,  e sem laboratórios nas disciplinas básicas, é muito superior ao modelo tradicional.

O “facilitador de ensino”, argumentam os ufanistas defensores do “PBL made in Brasil”, não precisa saber os conteúdos temáticos dos casos clínicos.

Basta apenas  conduzir a  sessão tutorial ( se o tutor precisar há o guia tutorial para se socorrer de perguntas  realizadas pelos alunos).

Nada mais!

Se o aluno tiver dúvida, é só apontar para  o caminho da biblioteca, e  quando existem com acervo adequado (número suficiente de livros e atualizados).

Sai de cena o facilitador de ensino ou tutor, e deixa a busca por conteúdos temáticos para os alunos.

Nenhum compromisso do docente de ensinar.

E o docente nem precisa ser qualificado, pois existe nesse  modelo do “PBL  made in Brasil” a figura do “professor colaborador”, sem pós-graduação, e sem Residência Médica.

Nem Residência Médica precisa ter…

Afinal, na lógica do “PBL made in Brazil”, é o “professor colaborador” que ouve as questões de aprendizagem propostas pelos os alunos, ou seja, são os alunos quer sugerem as perguntas e os temas a serem discutidos na próxima sessão tutorial e ou encontro em USF e ou UBS.

Se houver forte pressão dos alunos, há sempre a  aleivosia  pedagógica por parte do docente e ou  “professor colaborador” sugerir a busca por  questionamentos apontando o caminho da biblioteca da faculdade.

Ou nas apostilas do Med Curso…

Nada de ensinar.

Nem laboratório para atividades práticas existem na grade curricular do curso de medicina (anatomia,  histologia, fisiologia, parasitologia, patologia etc.) .

Aulas nem pensar.

Basta o aluno estar inserido no SUS – rede de atenção básica – que está ótimo.

Afinal, seguem a orientação  das Diretrizes Curriculares do Curso de Medicina.

Conhecer o SUS !

A lógica é centrada no aluno.

Se o aluno não for aprovado na graduação: culpa do aluno !

Se entrar em Residências Médicas de renome nacional: mérito do “PBL made in Brazil” implantado dessas faculdades  (lembrando que o SJT  e o Med Curso preparam os alunos durante  dois a três anos,  pagos pelos pais dos alunos para se apropriarem de conteúdos temáticos necessários ao concurso de Residência Médica).

Basta seguir os passos tutoriais, e tudo acaba bem nesse modelo de ensino.

Cada facilitador segue os “passos tutoriais”.

Nesse diapasão, o MEC vai paulatinamente  modificando cursos de medicina com a desídia de diretores  de graduação em nada preocupados  com a qualidade do ensino.

Antes , rendem-se ao novo paradigma pedagógico.

No anos 2000 surgiu o Promed – Projeto de Incentivo a Mudanças Curriculares para os Cursos de Medicina- que injetou  alguns milhões de reais depositados nas contas das faculdades simpatizantes ao método “PBL  made in Brazil”  (cotas de RS 1,2 milhões de reais/ano no período de três anos no período de implantação do PBL, e depois o depósito anual  para as faculdades que permanecem fiéis ao método PBL) para estimularem as mudanças na matriz curricular das mesmas, inserindo precocemente os alunos na rede de atenção básica.

Outrossim, alunos não precisão ter conhecimentos dos últimos 20 séculos.

Antes o mantra : aprender a aprender”.

Esse sofisma basta !

Surreal…

Interessante que quando queremos  e pretendemos algo na vida, contratamos o melhor profissional em conhecimento.

Percebe-se que existirão faculdades de medicina que formem médicos para trabalharem na rede de atenção básica, e outras que formem especialistas.

Haverá dois tipos de médicos.

O discurso do biopsicossocial na formação do aluno, que se instrui sem auxílio do professor(discurso introduzido pelo comunista Paulo Freire em sua obra Pedagogia do Oprimido, o qual  tinha como ídolos Fidel Castro, Stalin, Mao Tsé – Tung, etc).

Um sofisma, que muitas vezes, engana até professores experientes.

Na tese de doutoramento de  Guilherme Souza Cavalcanti Albuquerque, o qual compara o PBL na Faculdade de Medicina da Universidade de Londrina com o modelo tradicional da  Faculdade de Medicina de  Curitiba UFPR, há na conclusão da tese de que o modelo PBL  é inovador, mas a aprendizagem dos alunos é superficial (grifei).

Assim, na conclusão de  sua tese de doutoramento, não qualificou o PBL como ferramenta de ensino/pedagogia a ser implementada em cursos de medicina.

A tese diz tudo que um neófito motivado pelo PBL sabe:

Aprendizagem superficial !

Um estelionato pedagógico !

estelionato “Acreditamos saber que existe uma saída, mas não sabemos onde está. Não havendo ninguém do lado de fora que nos possa indicá-la, devemos procurá-la por nós mesmos. O que o labirinto ensina não é onde está a saída, mas quais são os caminhos que não levam a lugar algum “.

Noberto  Bobbio

Ensino pedagógico ou Sofisma pedagógico nas faculdades que adotaram o PBL made in Brazil? Eis a questão!

ensino em medicinaDiretores de Graduação ao arrepio do bom senso, e sem nenhuma concepção de que toda mudança deve ser feita por toda a comunidade de docentes na implantação do modelo, implantaram o  PBL (Problema Based Learning) ou ABP (Aprendizagem Baseada em Problemas) no modelo de gestão verticalizado, ou seja,  de cima para baixo.

O modelo em total falta de compromisso com o ensino, substituiu o ensino em salas de aulas, extinguiu os laboratórios de fisiologia, farmacologia, imunologia, parasitologia, microbiologia, patologia, histologia, e ainda por fim, extingue os Departamentos de  Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Ginecologia e Obstetrícia, e Pediatria.

Os laboratórios de anatomia nessas faculdades existem, mas com apenas um docente!

Como aluno passei em todos esses Departamentos de Medicina, e noto a ausência nos dias atuais das memoráveis discussões clínicas, reuniões clínicas, apresentação de seminários, visitas às enfermarias, etc.

Outrossim, os Departamentos de Medicina foram extintos nessas faculdades, pois eram constituídos de docentes contrários ao “PBL made in Brasil”,  puro e utópico, como se apresenta no presente  momento nas faculdades de medicina do Brasil ou seja, o professor não ensina, e o aluno deve fazer a busca de seus conhecimentos.

Esse é o lema do “PBL made in Brazil”.

Nada contra o PBL.

Muito interessante em tornar  o aluno ativo no processo ensino-aprendizagem, como em pesquisas, leituras críticas de artigos científicos, análise crítica dos indicadores de saúde do nosso país, etc.

Mas, a ausência de aulas de anatomia, fisiologia, parasitologia, bioquímica, histologia, farmacologia, patologia, imunologia torna o curso sem ensino necessário de temas importantes e necessários na grade curricular.

Mas, o PBL isoladamente, como é aplicado em faculdades de medicina, pública e ou privada, é muito distante daquilo que se possa esperar de eficaz no ensino de um curso de medicina, pois a falta de conteúdos temáticos não oferecidos pela instituição em muitas delas pode  tornar o aluno sem conteúdos mínimos necessários  à formação médica.

Uma reflexão precisa ser feita…

Existem bombeiros, mecânicos de automóveis, pilotos de avião, atletas em nível de competição sem treinamentos específicos e domínio das técnicas a serem utilizadas nos cenários da vida profissional ?

Existem?

Resposta simples – não!reclamação 3

Pois bem..

Como formar médicos sem aulas práticas em laboratórios, sem conteúdos temáticos mínimos para a boa prática médica, sem professores da instituição  (e não “professores colaboradores” da rede de atenção básica como ocorre no presente momento)  supervisionando os alunos em estágios  dessas faculdades.

A vida é um bem indisponível, e não  se  pode  formar médicos sem conhecimento mínimo para o exercício profissional.

A competência só ocorre em cada ato do profissional médico, quando se exige do mesmo a aquisição de sólidos conhecimentos de medicina, de habilidade psicomotora, e de relação interpessoal.

Relação interpessoal adequada é ser ético, e não ser omisso, negligente e imprudente na vida profissional do médico.

reclamação 2Nada contra o ensino do PBL em alguns cenários de ensino-aprendizagem, mas o PBL aplicado e implementado  em muitas faculdades de medicina não se  pode aceitar.

É anacrônico.

A ferramenta  de ensino transformou- se em filosofia de ensino, e não em ferramenta pedagógica.

reclamação 1

Assim, é que toda discussão em estágio com  alunos, as apostilas do Med Curso são sacadas de suas mochilas, e apresentadas como ponto de partida da discussão.

Essa é a realidade…

Nua e crua.

É certo que os docentes mais antigos  estão sendo substituídos por “facilitadores de ensino”, e , ainda, acabam perdendo espaços na instituição pelos “professores colaboradores”, sem Residência Médica, e que trabalham em USF, sem especialização médica, e se tornaram da noite para o dia os docentes que ministram “PBL made in Brazil”.

É surreal…

Anacrônico…

Sofismático!

Para os admiradores do modelo vigente, logo se pode esperar uma promoção – uma coordenação de curso-, visto que os coordenadores não são escolhidos pelos seus pares, e  possivelmente uma indicação política na cadeira da Diretoria de Graduação, Coordenação de Enfermagem, Coordenação de Medicina pelo padrão communis opinio, 

reclamação 6Que alunos  lutem pelas melhorias nas instituições de ensino, pois caso contrário maiores decepções no ensino poderão surgir em futuro próximo.

Que se possa oferecer auxílio estudantil para alunos que estão em dificuldades financeiras em valores oferecidos por outras universidades estaduais.

Nosso apoio aos docentes  que ousam discordar do “PBL made in Brazil”,

Não queremos passar por professores omissos (politicamente corretos com o  “Super Pedagogo ou Pedagogo Mor”, embora nunca  fossem orientados para a docência em  oficinas pedagógicas regulares ao longo dos semestres concomitantes ao ensino da graduação).

Antes, a cidadania, a ética, e o prazer de ensinar.

E não fingir ser simpatizante do atual modelo pedagógico com interesses inconfessáveis.

Não ao estelionato pedagógico!

Não ao sofisma pedagógico!

Lembro-me de algumas cenas do naufrágio do Titanic, retratadas com muita emoção no filme de James Cameron, estrelado por Leonardo Di Caprio e Kate Winslet: o navio-gigante, afundando aos poucos, depois de ter batido em um iceberg, salvando-se alguns poucos que, em botes, ousaram enfrentar o mar gélido e congelante.

Em defesa de ensino com qualidade !

titanic  “Há tantos burros mandando em homens de inteligência, que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma ciência”.

Rui Barbosa